sábado, 17 de novembro de 2007

Intelectuais comentam perda de espaço da literatura perante o jornalismo

Fonte: Observatório da Imprensa

Por Hermano Freitas

Presentes ao I Salão Nacional do Jornalista Escritor, promovido pela Associação Brasileira de Imprensa (ABI) de 15 a 18/11 no Memorial da América Latina, em São Paulo, os escritores com carreira no jornalismo Moacyr Scliar e Luis Fernando Verissimo e o cartunista Jaguar conversaram na tarde desta sexta-feira (16/11) com a reportagem do Comunique-se.

Scliar afirma que, a partir de meados do século XIX, a imprensa ocupou o lugar da literatura como forma primordial de as pessoas se informarem e influenciar em seu estilo foi “natural”. “No jornalismo, o leitor está sempre em primeiro lugar, o que não acontece necessariamente na literatura. De repente a ficção passou para segundo plano”, disse o colunista dos jornais Zero Hora e Folha de S. Paulo.

Linguagem jornalística
Ele cita no Brasil os autores Machado de Assis e Lima Barreto como precursores da literatura com as características de linguagem mais seca, econômica e objetiva, próprias do jornalismo, e identifica :“um sinal claro de que a ficção está em baixa é que ninguém mais escreve sob pseudônimo”. “Cada vez mais o leitor deseja saber que o que ele está lendo é verdade”, afirma.

O jornalista e escritor Luis Fernando Verissimo, autor de crônicas e relatos publicados em diversos jornais e revistas, considera os anos 1940 como marco na consolidação da influência do jornalismo na literatura e cita exemplos dos EUA.

“Temos o clássico (Ernest) Hemingway como um dos que inauguraram este estilo com frases mais curtas e o exemplo mais óbvio de Gay Talese e Norman Mailer”, enumera Verissimo. Ele afirma que os livros-reportagem consolidaram de vez o estilo econômico como predominante na literatura. E sentencia: “não sei se a literatura está em decadência, mas certamente a relidade está muito mais inacreditável”.

Cartum e cerveja
O ex-cartunista do Pasquim Sérgio Jaguaribe – mais conhecido como Jaguar – atualmente na revista piauí, declarou estar um pouco constrangido de comparecer ao evento. “Eu não sou nem nunca fui jornalista nem escritor, sou um cartunista que faz charges para sobreviver”, definiu-se, entre um gole e outro de cerveja.

Ele afirma preferir o cartum à charge e explica: “o cartum você pode ler em qualquer contexto histórico e ele será entendido, a charge está condicionada ao momento”. Entre a nova safra de cartunistas brasileiros, destaca André Dahmer: “é um dos textos mais geniais de sua geração”.

Jaguar concorda com seu amigo Verissimo: “não culpo quem prefere jornalismo a literatura: a realidade está muito mais maluca que a mais maluca das ficções”.

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