sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

A mídia e o debate da CPMF

Por Alberto Dines em 14/12/2007
Fonte: Observatório da Imprensa

Não há como esconder ou disfarçar: foi visível, quase ostensivo, o apoio da mídia ao fim da CPMF. E não poderia ser diferente: em primeiro lugar porque leitores, ouvintes e telespectadores de todos os níveis sociais e culturais, mesmo em países do primeiro mundo, detestam pagar taxas e impostos. O civismo e o patriotismo esbarram sempre nos interesses individuais, isto é, no bolso.
Em segundo lugar, há que considerar que desta vez, ao se discutir a prorrogação da contribuição, o bloco do "não" foi capitaneado pela poderosa Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), a mais articulada e ativa corporação empresarial do país. Assim como seria suicídio confrontar a vontade das audiências, a mídia também não pôde ir contra os interesses dos anunciantes. Com mais dinheiro em caixa há mais investimentos e, com mais investimentos, mais anúncios.
Viva o rei
Há uma terceira explicação, esta mais sutil e subjetiva, para a preferência da imprensa pelo fim do imposto do cheque: a derrota do governo seria mais notícia, renderia mais debates, produziria maior repercussão, faria mais barulho.
Um governo com altas taxas de popularidade, nunca contrariado, tipo rolo compressor, acaba chato, maçante. E até pode ser perigoso.
O jornalismo vive de novidades, movimento, contradições. Exemplo: derrotada a CPMF, já se fala na nova CPMF que vem por aí.
O rei é morto, viva o rei.

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quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Uma idéia atual

Fonte: Terra

A partir do dia 07/12, os internautas poderão assistir ao novo filme do gaúcho Carlos Gerbase, 3 Efes, na íntegra no Terra. A produção estreiou simultaneamente no cinema, televisão a cabo (Canal Brasil), Internet (Terra) e DVD.

Os internautas podem acessar ao filme em streaming, que deixa download do arquivo mais leve e rápido. 3 Efes entra em cartaz simultaneamente nas salas digitais do sistema RAIN pelo País, onde fica por apenas sete dias.

Depois da estréia, os internautas poderão assistir ao longa a qualquer hora no Portal Terra. O filme estará disponível por tempo indeterminado no Terra em versão on demand (VOD). Com isso, o espectador pode escolher qual parte quer assistir. É possível adiantar e voltar trechos, bem como pausá-los.

História
3 Efes concentra-se em alguns dias na vida de poucos personagens cujas maiores necessidades explicam o título - comida, sexo e "fasma", palavra que vem do grego e tem a ver com a vida em sociedade.

A protagonista é Sissi (Cris Kessler), uma jovem universitária que trabalha no telemarketing para ajudar o pai viúvo e desempregado. Como nunca tem dinheiro, ela vive com fome. Uma amiga diz que está ganhando muito fazendo programas, e a moça começa a pensar nessa possibilidade para aumentar a renda.

Sua tia Martina (Carla Cassapo), cozinheira de mão cheia, também anda desgostosa com a vida. O marido Rogério (Leonardo Machado) mal tem tempo para ela, pois está cheio de problemas na agência de publicidade onde trabalha. A mulher, que faz pratos elaborados, começa a convidar um catador de papel (Paulo Rodrigues) para dividir a refeição. Da mesa para a cama é só um passo.

Rogério não sente muita fome, mas o sexo passa a ter um papel fundamental quando é obrigado a virar amante de sua chefe para garantir o emprego. Aos poucos, suas vidas vão se cruzando até chegar a um clímax, que conta com a participação de Julio Andrade, protagonista de Cão Sem Dono, de Beto Brant.

A Produção
O longa 3 Efes foi rodado em Porto Alegre durante apenas 20 dias, entre dezembro de 2006 e janeiro de 2007. Carlos Gerbase trabalhou com uma equipe formada por universitários do curso de Cinema, que usaram uma câmera mini-DV e um kit de luz portátil nas gravações.

O elenco também é formado por novatos. A protagonista Cris Kessler e o papeleiro vivido por Paulo Rodrigues são estreantes. Outros atores já haviam trabalhado com o diretor antes. Ana Maria Mainieri atuou em Tolerância e Carla Cassapo, Leonardo Machado e Fábio Rangel fizeram pequenos papéis em Sal de Prata.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

UnB TV (NET canal 06), a nova TV comunitária do DF


A UnB TV, dirigida por Armando Bulcão, foi inaugurada em 21 de novembro de 2006 e é uma rede de televisão comunitária. Está inserida na idéia das tevês universitárias, que têm como intuito servir de ponte de ligação entre universidade e comunidade.

É organizada pelo Centro de Produção Cultural e Educativa (CPCE) da Universidade de Brasília (UnB), ligado à reitoria, estando aberta à participação de professores, estudantes e servidores de todas as áreas da Universidade. Foi idealizada por Darcy Ribeiro e Roberto Pompeu de Souza, respectivamente um dos fundadores da Universidade e o criador do curso de Comunicação Social da UnB, que tinham como preocupação criar um veículo com uma programação ligada a temáticas tais como educação, cidadania, ciência, tecnologia, arte e cultura.

A programação conta com entrevistas com artistas, muitos ligados a movimentos ativistas, coberturas de eventos esportivos, como o pan-americano 2007 no Rio de Janeiro, homenagens a pessoas de importância no cenário cultural brasiliense, tais como Afonso Brazza, informações sobre projetos, como o projeto Rondom, etc... Em suma, a programação da UnB TV cobre eventos importantes da cidade, entra em contato com as personalidades do cenário artístico-cultural, abre espaço para as vozes de movimentos ativistas e para a voz do estudante universitário, seja para dar sua opinião acerca de questionamentos socialmente relevantes do momento, seja para fazer homenagens ou programas humorísticos descontraídos.

A UnB TV é exibida pelo canal 6 da NET tevê a cabo em Brasília. Para quem não tem TV a cabo, partes de sua programação podem ser encontradas no youtube.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Jornais ainda dão saltos no escuro em matéria de estratégias online

Fonte: Observatório da Imprensa
Postado por Carlos Castilho em 30/11/2007 às 4:33:46 PM


A vida digital dos jornais impressos tem sido um verdadeiro calvário de apostas no escuro e de uma persistente falta de parâmetros sobre o que pode ou não dar certo.

O grupo gaúcho RBS, por exemplo, apostou inicialmente na marca diferenciada ClickRBS para assinalar a sua presença noticiosa na Web, mas agora muda de estratégia para colocar suas fichas em identidades que o público já conhece, como os seus carros-chefes , os jornais Zero Hora e Diário Catarinense.

O dilema do grupo RBS é o mesmo de quase todos os grandes jornais brasileiros e também dos principais grupos jornalísticos europeus e norte-americanos. Eles não sabem se é melhor usar marcas associadas a produtos impressos para atrair leitores virtuais ou criar um produto específico para os internautas.

Ninguém até agora descobriu a fórmula mágica, embora seja cada vez mais intensa a migração de leitores para as edições online. As estatísticas européias falam de mais de 40% de crescimento da visitação nas páginas online em jornais como o britânico The Guardian.

O que todos os executivos de jornais já sabem é que a versão online tende a se diferenciar cada vez mais da versão impressa por conta de comportamentos e demandas especificas dos leitores virtuais.

Todos os jornais do mundo começaram praticamente transcrevendo o material impresso na internet. As primeiras versões clonadas sobrevieram até 2001 e 2002 quando os jornais aderiram à moda do portal de notícias, onde a atualidade compartilhava espaços com produtos tipicamente web, como blogs, chats, enquetes, fóruns etc.

Com o passar do tempo, os portais foram se distanciando cada vez mais das versões impressas e os executivos passaram a enfrentar o dilema de preservar minimamente as características do jornal vendido em bancas ou descaracterizar totalmente marcas centenárias para seguir as tendências da Web.

A dificuldade da escolha é ampliada pela angustiante coincidência da sucessão de indicadores pessimistas sobre a indústria da notícia impressa em papel e das estatísticas alvissareiras sobre aumento de público e publicidade no mundo dos portais noticiosos.

Alguns jornais norte-americanos e europeus chegaram a assistir perdas de 7% a 13% nas receitas publicitárias impressas, enquanto a versão online das mesmas publicações dispara em direção a índices superiores a 20%, na coleta de anunciantes.

No Brasil, a opacidade corporativa dos grandes conglomerados mediáticos nos priva de indicadores mais precisos sobre a realidade do setor. Mas se depender da angústia dos seus principais executivos, a situação é para lá de preocupante, mesmo com os saudáveis índices de faturamento publicitário neste final de ano, especialmente no eixo Rio-São Paulo.

Ao apostar nas velhas marcas ZH (Zero Hora) e DC (Diário Catarinense), o grupo RBS procura frear a debandada de público rumo à voragem informativa na Web, bem como tenta manter o velho rebanho de leitores dentro dos limites do virtual monopólio jornalístico do conglomerado no Rio Grande do Sul e Santa Catarina.

A RBS reproduz a estratégia usada por outros grupos da mídia, principalmente na Europa, de criar produtos diferenciados. Assim o portal ClickRBS será mantido para se tornar um produto genuinamente Web, para abrir blogs, chats, vídeos, radio online e tudo o que ainda está por vir. A perna comercial da estratégia do grupo gaúcho é o portal Hagah, voltado para o comércio eletrônico, empregos e classificados.

O problema é que, como já aconteceu na Europa e nos Estados Unidos, os produtos diferenciados não conseguem decolar quando sua imagem está descolada das marcas tradicionais impressas. Isto faz com que eles, em termos de imagem pública, tenham que enfrentar, em pé de igualdade, a concorrência de iniciativas exclusivamente online, que são muito mais ágeis.

No fundo o principal problema dos principais jornais impressos é a sua própria grandeza, porque desenvolveram estruturas pesadas e burocráticas que apresentam uma grande inércia na definição de novas estratégias para sua presença online.
Quando finalmente decidem mover-se são forçados a concorrer com novatos que nasceram dentro da Web e a conhecem muito melhor. Há casos de sucesso como o Guardian, O Globo, The Washington Post e El Mundo (espanhol), mas a grande maioria dos jornais impressos ainda não sabe para onde ir e como ir.

Mídia não veste a carapuça

Por Alberto Dines em 6/12/2007

A culpa é sempre dos outros, a mídia nunca veste a carapuça. Na quarta-feira (5/12), os jornalões espernearam contra o baixo desempenho de nossos alunos no ranking internacional de compreensão de leitura. Todos, sem exceção, caíram em cima das autoridades estaduais ou federais da área da educação.
O Estado de S.Paulo, seguindo a paranóia privatista, chegou a aventar a hipótese de que um ranking só com alunos da rede privada deixaria o país em 27º lugar, e não na vexatória 49º posição do conjunto de escolas.
A mídia não teria uma parcela de responsabilidade na incapacidade de nossas crianças e jovens em entender o que lêem? Alguém já abriu o Globinho, o Estadinho e a Folhinha, cadernos infantis dos sábados, para verificar a qualidade dos seus textos? E a Folhateen, das segundas-feiras, estimula os adolescentes a refletir sobre o que lêem ou é apenas uma convocação para modismos e consumismo juvenis?
A imprensa é uma importante ferramenta de fomento de leitura – o desleixo e a pobreza de seus textos vão aparecer lá adiante, na sala de aula. Conviria que treinasse um mea-culpa.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Hélio Costa ignora ABNT e diz que conversor deve ter software

Folha de S.Paulo

O ministro das Comunicações, Hélio Costa, afirmou que os conversores de TV digital que estiverem no mercado sem o programa Ginga, que vai permitir a interatividade plena (envio de dados para as emissoras), não podem ser vendidos.
Conversores sem o programa Ginga não podem ser vendidos, diz ministro Costa
"O conversor tem que ser um só. Existem normas técnicas que têm que ser seguidas. O que não colocou o Ginga não pode ser vendido, não atende às normas técnicas do Fórum da TV digital. A tecnologia está pronta, quem quiser o Ginga baixa da internet sem custo."
Nenhum dos aparelhos à venda tem ou pode ser adaptado com o Ginga, mas as declarações do ministro não têm respaldo na ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), que divulgou as especificidades aos conversores no sábado. Segundo o documento, "o porte do Ginga é opcional".
De acordo com Erlei Guimarães, diretor da Positivo Informática, agora "a indústria está pegando as especificações e transformando em um software que pode ser embarcado em um conversor". Roberto Barbieri, diretor da Semp Toshiba, afirma que "a bateria padrão de testes fixada pelo Fórum não está desenvolvida ainda". Após isso, diz, ainda será necessário fazer testes de campo.
Eugênio Staub, presidente da Gradiente, afirmou no domingo que, "nos próximos dias", a empresa --que seria a primeira-- vai lançar um conversor já pronto para receber o Ginga.
Sobre a possibilidade de download do programa, só profissionais especializados saberiam usá-lo. Segundo Luiz Fernando Gomes Soares, da PUC-RJ, um dos coordenadores do projeto de desenvolvimento do Ginga, o consumidor "teria que comprar um demodulador ISDB e ligar no computador e na TV". Com isso, o PC funcionaria como um conversor.
Além disso, a interatividade plena só será possível quando for definido o canal de retorno (telefone, internet) que será usado para enviar os dados às emissoras de televisão.

Microsoft é condenada a pagar US$ 140 mi por quebra de patente nos EUA

Folha Online

A Justiça dos Estados Unidos condenou a Microsoft a pagar mais de US$ 140 milhões (R$ 255 milhões) por supostamente ter desrespeitado as patentes de uma empresa de tecnologia de Michigan.
A z4 Technologies entrou com uma ação contra a Microsoft e a empresa de software Autodesk em 2004. A companhia alegava que a tecnologia que elas utilizaram para ativar aplicativos recém-instalados e impedir a pirataria infringia as patentes obtidas por David Colvin, o dono da z4.
A empresa de Michigan afirmava que o Windows XP e o Microsoft Office 2003 utilizavam um método, já patenteado, de pedir que os usuários de computador digitassem duas senhas, ou códigos de autorização, antes que eles pudessem utilizar totalmente o novo software.
Em abril de 2006, um Tribunal Federal no Texas ordenou que a Microsoft pagasse US$ 115 milhões à z4, mais os custos com o processo e US$ 25 milhões pela quebra da patente. A Microsoft, que recorreu da decisão, argumentava que essas licenças eram invalidas.
Entretanto, em 16 de novembro, uma Corte de Federal de Apelações do país que analisa todos os recursos sobre a questão das patentes manteve a decisão na íntegra.
A Microsoft informou por meio de seu porta-voz David Bowermaster que o Windows Vista e o Office 2007 não foram afetados pela decisão. Ele disse ainda que a empresa não tem de fazer nenhum ajuste técnico no XP ou no Office 2003.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Net lança conversor para TV Digital

Equipamento cedido em comodato aos assinantes dispensará uso de outros decodificadores ou antenas

Roberta Ristori

30/11

Na esteira do início das operações da TV digital no país, iniciada no próximo domingo, 2, a Net Serviços e a Globosat anunciaram nesta sexta-feira, 30, o seu serviço de transmissão de sinal digital de TV em alta definição. Assim, a Net Digital HD apresentou comercialmente o seu decodificador - fabricado pela Cisco - que permitirá a recepção de canais da TV aberta e por assinatura transmitidos em alta definição.

O equipamento, que custa R$ 799, é cedido em comodato e dispensa os assinantes da aquisição de outro set top box ou utilização de antenas internas ou externas para recepção do sinal. O conversor destina-se a televisores de plasma ou LCD, com displays capazes de suportar a maior resolução HD.

Posteriormente, os clientes da Net Digital HD poderão habilitar os recursos de gravação e armazenamento da programação, além de pausar, avançar e retroceder. As funcionalidades estarão disponíveis para os assinantes que aderirem ao serviço de gravação digital (DVR).

A Globosat apresentou também o canal Globosat HD (canal 501), 100% produzido e exibido em alta definição, com o objetivo de dar aos clientes a oportunidade de "degustar" a nova tecnologia. "A Globosat HD traz aos assinantes a experiência de ver TV no formato digital", diz Pedro Garcia, diretor da Globosat HD.

O canal exibirá seis horas de programação diária, das 19h à 1h, que será reprisada no resto do dia. Trata-se da combinação de programas exibidos pelos canais da Globosat nos gêneros musical (Multishow), filmes (Telecine), esportes (SporTV) e programas do canal GNT.

Segundo Márcio Carvalho, diretor de produtos e serviços da Net Serviços, durante o primeiro ano, o canal Globosat HD será cedido aos assinantes da Net Digital HD gratuitamente e posteriormente os custos serão estudados.

Fernando Magalhães, diretor de programação da Net, declarou que em breve estarão oferecendo outros canais em alta definição. "A Net negocia com todos os canais que tem conteúdo em HD, mas para isso dependemos de uma escala mínima de assinantes. À medida que tivermos maior volume, teremos mais canais no Brasil", finaliza.

A TV Digital como ficção científica

A TV Digital como ficção científica

Marcus Vinicius Batista

A partir de 2 de dezembro, as transmissões de TV – pelo menos em São Paulo – deixam de ser analógicas e ganham caráter digital. As principais emissoras do país veiculam há dois meses, durante a programação, filmes de 30 segundos com objetivo de explicar, além de valorizar, é claro, a mudança tecnológica na principal mídia do planeta.

No entanto, as mudanças – a curto prazo – praticamente inexistem. A TV Digital ainda será um privilégio para poucos cidadãos (o mais apropriado seria consumidores) por uma série de fatores que envolvem as emissoras, os profissionais e, principalmente, os espectadores.

Em primeiro lugar, a chegada de uma nova tecnologia, em termos históricos, jamais exclui ou elimina as anteriores. É inerente uma fase de transição. O modelo tecnológico atual e os formatos de programação permanecerão por mais alguns anos. A convivência com o novo será pacífica e a despedida dos mais antigos, gradual e sem data fixa. Algumas mídias se aperfeiçoam e garantem sobrevida, como o livro e a revista. O primeiro sobrevive há mais de 650 anos, enquanto a segunda há mais de meio milênio, se descontarmos as variações de linguagem e de estética.

A relação com os espectadores também encara alterações em ritmo lento. Basta pensarmos que, no Brasil, apenas 30 milhões de pessoas – portanto, menos de 20% da população – têm acesso à Internet, mídia presente no país há 15 anos. A TV a cabo, dentro dos lares brasileiros no mesmo período, abrange a metade deste contingente, restrito às cidades grandes e médias.

A mudança tecnológica necessita da criação e do fomento de novos hábitos de consumo. É evidente que, a partir da estabilização do real, na metade dos anos 90, ficou mais fácil para os consumidores comprarem televisores e outros equipamentos eletroeletrônicos. Com a transmissão digital, a questão não é apenas o aparelho conversor. Oito em cada dez televisores brasileiros têm 20 polegadas ou menos, o que não garantiria – segundo os especialistas da área – um acréscimo na qualidade de áudio e de imagem.

O aparelho conversor, aliás, sairá mais caro do que o previsto. Um ano atrás, o Governo Federal falava em US$ 100 o preço do equipamento, o que daria hoje cerca de R$ 200. O mercado, que deverá regular os valores, cedeu às especulações nos meses seguintes. O conversor chegaria a custar R$ 800. Hoje, fala-se – inclusive o Ministério das Comunicações – em R$ 500, preço acima do que a maioria dos brasileiros pode pagar.

A presença da TV Digital afetará o modo de produção de conteúdos, o que inclui a linguagem. Como ficará a publicidade, cada vez mais ignorada nos intervalos comerciais e migrante para dentro dos programas? O jornalismo e o entretenimento? Ambos vão caminhar rumo à segmentação? Os conteúdos serão confeccionados por produtoras independentes? A Rede Globo, a maior do país, produz 95% da própria programação. Este índice já foi de 98%. Por outro lado, na TV a cabo, boa parte do que se assiste é feito por independentes ou adquirido de empresas estrangeiras. A emissora, há três meses, anunciou a extensão de contrato com a Playboy TV, ampliando de dois para sete os canais de programação erótica no sistema fechado.

A resposta é que ninguém sabe como ficará a programação. No máximo, perspectivas com base no passado ou exercícios baratos de futurologia. Até porque outro instrumento tecnológico integra o cenário: os celulares. Uma das vantagens do modelo japonês de transmissão é a portabilidade, ou seja, a capacidade de acompanhar a programação, com pouca perda de qualidade, em equipamentos móveis e de pequeno tamanho. As empresas de telefonia já perceberam este mercado e investem em equipamentos e gerenciamento de conteúdos.

O Brasil possui mais de cem milhões de assinantes de telefonia móvel, o maior índice da América Latina. Na outra face da moeda, é o país da mesma região com os serviços mais caros. É claro que a maioria dos aparelhos também precisa ser trocada, pois faz pouco além de emitir e receber chamadas. Aliás, a maioria dos assinantes utiliza serviços pré-pagos, o que afeta o consumo de conteúdos. Segundo o Ministério das Comunicações, o usuário nada pagará pelos programas assistidos em telefones móveis, porém as empresas de telefonia estudam mecanismos – desde publicidade até acesso a informações exclusivas – para laçar o consumidor pelas beiradas.

A imprevisibilidade da TV Digital ainda se sustenta na velocidade com que os equipamentos são modernizados. O sistema de consumo, quando unido à tecnologia, brinca com os preços, porém exige trocas sucessivas de aparelhos, visando atender aos novos modos de difundir informações, além de fomentar valores simbólicos como status e pertencimento social. Coitados daqueles que ainda pagam as 20 parcelas daquela TV LCD, diante da Oled TV, modelo produzido por uma marca japonesa, cuja tela tem três milímetros de espessura (um folha grossa de papel) com custo reduzido à metade das antecessoras.

O fato é que o prazo de dez anos para adequação à televisão digital dificilmente será cumprido. O país, de dimensões continentais, convive com um perfil de desigualdade social que gera disparidades tecnológicas. Trata-se de uma sociedade que ainda luta pela inclusão digital, consome cerca de 7,5 milhões de jornais por dia (só a maior publicação japonesa vende um terço disso) e dispõe de meia dúzia de canais abertos de televisão, com formatos, estética e linguagem parecidos.

Por enquanto, a TV Digital será privilégio para aqueles que possuem maior poder aquisitivo e que residem no Estado mais rico do país. É o contraste com o Brasil, no extremo norte, que vê apenas dois canais num aparelho em preto e branco e ouve rádio em espanhol, permeado por ritmos musicais colombianos.

A difusão tecnológica, quando aliada ao consumismo, carrega em si – paradoxalmente – o poder de incluir e de excluir indivíduos da informação, do conhecimento e do entretenimento. Para os que podem pagar, o futuro é agora. Para a maioria, peça de ficção científica.